Rádio Macau

Antiwar songs by Rádio Macau
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Rádio MacauRádio Macau é uma banda portuguesa formada em Algueirão, Mem Martins, no início dos anos 80. Em 1993 a banda suspende a actividade, alegando cansaço e vontade de embarcar noutras experiências.1

Regressam como banda em 1998 e aos discos em 20002 , com outra sonoridade. A banda gravou em 2008 o 8º álbum de originais, a que chamam simplesmente 8.

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Vivemos numa época em que, também no nosso país se tornou práctica comum editar-se compilações que tentam resumir em pouco mais de uma dúzia de canções a carreira de uma banda que o passado consagrou. Proliferam iniciativas de editoras que, com boas doses de marketing, visam apelar às almas mais nostálgicas e àqueles que preferem o carácter resumista e económico das compilações à pureza e espontaneidade dos álbuns originais; Eis que algo parecido sucede agora com os Rádio Macau.

Porém, ao contrário do habitual, "A Vida Num Só Dia" - assim se chama a compilação lançada em Outubro pela EMI, antiga editora dos Rádio Macau -, não é uma homenagem póstuma, nem tão pouco vem celebrar o funeral de uma banda que se vai mantendo de pé com morte anuncia-da. Pelo contrário! Os Rádio Macau são uma banda que está bem viva,como o prova o último álbum de originais lançado em 2000, "Onde o Tempo Faz a Curva". As novas sonoridades nele exploradas vieram acordar da latência aquela banda de que já não se ouvia notícias desde 1992, ano em que haviam lançado "A Marca Amarela".

Tendo em conta o lançamento desta compi-lação,que melhor altura para recordarmos aqui a conversa que tivemos com dois elementos dos Rádio Macau alguns meses atrás, quando ainda ecoavam nos ouvidos as melodias de "Onde o Tempo Faz a Curva"? É uma bela oportunidade para recordarmos alguns aspectos da carreira dos Rádio Macau - e ao mesmo tempo esquivar-nos da tarefa penosa e pouco compensadora que é comentar as músicas de uma compilação.

A técnica de trabalhar som e vídeo
Flak revelou-nos um pouco da sua forma de trabalhar os sons dos Rádio Macau e também alguns aspec-tos relacionados com o seu novo interesse,o vídeo.Aqui ficam alguns excertos da entrevista: "A base de gravação que nós temos é um Macintosh,com um programa que é o Digidesign ProTools, que é um dos programas mais sofisticados,usado em quase todos os estúdios de gravação digital.A par-tir daí, temos outro computador, que é um PC normal, onde temos uma quantidade de plugins e de processadores de som...Metemos lá os sons,trabalhamo-los e passamos do PC para o Macintosh...E depois aquilo é um bocado ping-pong,passamos do Mac para o PC,do PC para o Mac..." "Nós trabalhamos com sons analógicos,mas qualquer som que aparece no nosso disco foi processa-do e foi colocado outra vez...Mesmo que nós o tivéssemos gravado analogicamente,não houve nenhum som que não fosse retrabalhado a seguir." "Neste momento, temos uma livraria de sons que nós já fizemos, que nós já construímos e que podemos aplicar noutras músicas e até em outros projectos." "Nós fazemos samplings,o que acontece é que se fores à Internet sacas milhares e milhares de loops e de sons e de coisas que se calhar ainda encontras em outros discos já feitos.Podes comprar CDs de samplings.Nós muitas vezes utilizamos isso,mas retrabalhamos esses sons,temos uma livraria de sons transformados por nós.Isso é o mais importante,porque senão a electrónica torna-se uma coisa banal porque toda a gente utiliza os mesmos sons." "[A propósito das recentes experiências a trabalhar em vídeo],eu tenho outro computador em casa, um PC com uma placa de vídeo e um programa de edição,o [Adobe] Premiere,e fiz algumas experiên-cias com imagem.Isto veio um bocado na sequência do trabalho que estávamos a fazer para os concertos ao vivo..."

Foi no interior de uma discoteca de Alcântara, pouco antes da hora de abertura,local tão estranho a nós como aos Rádio Macau que, após uma sessão de maquilhagem a que fomos alheios,decorreu esta conversa. "Nós começámos como amigos da escola, a tocar juntos",explica Flak,o guitarrista de sempre da banda,que agora se aventura também na elec-trónica. "Entretanto formámos uma banda, e às tantas assinámos um contrato. Gravámos um disco com uma editora ["Rádio Macau", com a EMI,em 1984],e a partir daí nunca mais parámosaté 92, 93, altura em que fomos levados a suspender durante algum tempo as nossas activi-dades.Tínhamos estado sempre juntos, e precisá-vamos de criar um bocado a nossa independên-cia,a nossa vida própria..." Xana, a voz dos Rádio Macau, fala um pouco mais sobre este interregno de oito anos que ocorreu entre as edições de "A Marca Amarela" (de 1992) e "Onde o Tempo Faz a Curva" (de 2000):"Eu tinha 13 anos quando os conheci...Em 84 quando gravámos o primeiro disco eu tinha 18 anos. A partir daí, nenhum de nós tinha tocado com outras pessoas,não tinha tido outras experi-ências musicais. Felizmente, ou infelizmente, tive-mos muito sucesso nessa altura, o que nos criou essas situações de pressão: muitos espectáculos, pressões da editora, que há sempre, em termos de edições de discos, etc... E nós sentimos essa necessidade de suspender o projecto que nos estava a afectar a criatividade. De algum modo, sentimos que essa pressão poderia levar-nos a fazer trabalhos menos bons, pelo que aproveitá-mos essa pausa precisamente para ter experiênci-as fora dos Rádio Macau, que não tínhamos tido até então.

Começaram então a surgir alguns projectos a solo [Xana lançou em 1993 "As meninas Boas Vão Para o Céu,as Más Para Toda a Parte" e em 1998 "Manual de Sobrevivência", quando Flak já tinha editado pouco antes um álbum homónimo, para além de tocar no Palma's Gang e fazer alguns tra-balhos como produtor], que foram experiências úteis para nós enquanto músicos."

E em termos de concertos? Como seria tocar na década de 80, quando os concertos de rock em Portugal, menos frequentes, se revestiam de um cariz mais underground e com um menor intuito comercial e de massas do que aquele têm hoje em dia?

A propósito deste assunto, Xana confessa-nos com alguma nostalgia que "até foi uma surpresa para nós em 84, quando lançámos o primeiro disco, termos um sucesso tão grande... Então dávamos trinta ou quarenta espectáculos por ano. Houve até anos em que demos mais, cinquenta ou setenta, portanto eram muitos espectáculos! Tocámos em condições engraçadíssimas, ou melhor sem condições nenhumas... [risos] Mas depois as coisas foram melhorando. Hoje penso que as condições de espectáculo são muito me-lhores que, por exemplo, na década de 80, mas também houve toda uma evolução paralela da indústria musical..."

Ficámos também a saber, no decurso da con-versa, que estava a ser planeada a edição de uma compilação dos Rádio Macau - que seria precisamente este "A Vida Num Só Dia", então ainda sem nome e sem que tivessem sido ainda escolhidos os temas que dela iriam fazer parte. "A nossa editora antiga, a EMI, quer fazer um best-of das músicas dos Rádio Macau", diz-nos Xana. Na verdade, a EMI editou todos os discos dos Rádio Macau à excepção do último de origi-nais "Onde o Tempo Faz a Curva",que saiu com o selo da BMG. "Nós entretanto disponibilizámo–nos para dedicar–nos a este pro-jecto dos Rádio Macau durante três anos:em três anos queremos fazer mais um disco de originais, essa antologia que obviamente também poderá ser feita,e podemos fazer ainda um disco ao vivo. Neste momento não estamos a fazer nada, nada está programado, mas eventualmente e futura-mente isso vai ser feito." Questionado sobre como seria o novo disco de originais,dado que com "Onde o Tempo Faz a Curva" a fasquia se encontra tão alta,Flak respon-deu simplesmente que "primeiro começamos a ter ideias,e depois logo vemos qual vai ser o cam-inho a seguir. É impossível falar sobre um disco que ainda não começou a ser feito".Acrescentou ainda que "só a partir do próximo mês [Abril] é que vamos começar a compor. Estivemos este tempo todo em concertos,na promoção do disco ["Onde o Tempo Faz a Curva"],tivemos muito tra-balho entretanto,e ainda não tivemos tempo para nos concentrarmos, mas vamos começar o mais depressa possível,talvez para o princípio de Maio, porque queremos lançar outro CD para o ano que vem,para 2002".Resta-nos aguardar para ver. "Nesta altura também queremos solidificar os nossos espectáculos ao vivo", confidenciou-nos Xana.

"Privilegiamos os espectáculos ao vivo como uma forma de promoção.Nós não fazemos muitas "televisões", não concordamos com a maioria dos programas que são feitos na televisão portuguesa,e como tal a maneira de fazer chegar a nossa música às pessoas será através dos con-certos.Por isso mesmo queremos ter um concerto sólido e que de algum modo defenda aquilo que queremos transmitir às pessoas. Neste momento estamos a trabalhar esse concerto, e será em princípio a nossa aposta como uma ver-dadeira promoção do disco." Condizendo com a sonoridade do último disco de originais, os concertos dos Rádio Macau durante este ano revestiram-se,sempre que pos-sível,de uma componente visual mais forte que o habitual,recorrendo sempre que o espaço o per-mitisse à projecção de imagens vídeo e a outros artefactos técnicos. Flak surpreende-nos ao assumir-se como responsável por alguns arranjos multimédia nos concertos e até pela produção de dois vídeos de músicas dos Rádio Macau,"Bastava um Gesto" e "De Azul em Azul". "Para mim, o método de trabalhar a imagem é muito parecido com o método que utilizo para trabalhar som. E gosto de fazer ambas as coisas.Acho que tenho uma certa sensibilidade para isso". "Temos tido sempre uma excelente equipa de profissionais de video", esclarece Xana. "Mas [os videos produzidos pelo Flak] não ficaram nada mal", reconhece. "São mais low budget", comple-menta Flak,com uma
gargalhada.

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